Com o objetivo de manter a rigidez nos cálculos e a previsibilidade das operações, muitas empresas optam por utilizar a chamada “contabilidade de hedge” ou hedge accounting. Essa estratégia funciona a partir da aplicação de regras específicas de contabilidade das operações de hedge financeiro, as quais permitem eliminar, ou pelo menos reduzir, a volatilidade nos resultados contábeis.
A principal finalidade da implementação do hedge accounting é registrar os acréscimos ou perdas originadas de instrumentos financeiros derivativos nos mesmos períodos contábeis em que os itens objeto de hedge impactam o resultado contábil da empresa. A ideia é respeitar o princípio de confronto das receitas e das despesas, reduzindo a volatilidade do resultado contábil criada pelo registro dos derivativos ao valor justo.
Dada a importância dessa estratégia no contexto da contabilidade e o seu caráter técnico, preparamos este artigo para ajudar você a entender melhor como, na prática, funciona o hedge accounting. Acompanhe!
Quais os requisitos para a qualificação de hedge accounting?
A utilização da estratégia de hedge accounting na realidade das empresas, apesar de mitigar os riscos envolvidos em operações financeiras, exige o cumprimento de alguns requisitos para que se torne possível na contabilidade.
Nesse ponto, por exemplo, é preciso destacar que existem critérios que devem ser atendidos para que se qualifique o negócio para a Contabilidade Hedge. São eles:
- que as relações de hedge digam respeito apenas a itens e instrumentos elegíveis;
- que ao iniciar a estratégia seja feita a designação formal e realizada a devida documentação do procedimento;
- que os requisitos de efetividade da relação de hedge sejam todos atendidos.
Além disso, quando se fala em itens elegíveis para uma relação de hedge, é necessário esclarecer quais são eles, já que a qualificação da estratégia também depende disso. Vejamos:
- ativo ou passivo reconhecido;
- transação futura com alta probabilidade de ocorrência;
- investimento líquido no exterior.
Quais os passos para implementação dessa estratégia nas empresas?
1. Identificar os itens ou transações objeto de hedge
A implementação de uma estratégia de hedge accounting se inicia com a identificação do tipo de operações que a empresa realiza. Para tanto, é necessário entender quais são os modelos em que se deve priorizar uma operação de hedge.
2. Identificar a categoria
Na prática, existem três categorias distintas de hedge. Identificar cada uma delas é outra ação essencial na implantação da estratégia. A seguir, explicamos melhor essas categorias. Confira!
Fair value hedge (Hedge de valor justo)
Nesse modelo de operação, o instrumento e o objeto de hedge devem ser mensurados a partir do seu valor justo, com a respectiva contrapartida no Resultado.
Cash flow hedge (Hedge de fluxo de caixa)
Já nesse tipo de operação, o que se busca é a proteção contra as possíveis variações que podem ocorrer no fluxo de caixa da empresa. De modo geral, essas variações estão relacionadas aos passivos ou ativos reconhecidos, compromissos firmes ou transações com alta probabilidade de ocorrência, e que são previstas.
Aqui, o objeto protegido continua sendo contabilizado de forma igual a que seria sem a estratégia de hedge accounting, no entanto, a parte efetiva das variações no valor justo do instrumento de hedge passa a ser registrada no Patrimônio Líquido — e não mais no Resultado.
Net Investment Hedge (Hedge de Investimento Líquido no Exterior)
Esse tipo de operação tem como escopo a proteção de um investimento líquido em uma atividade operacional realizada no exterior. Da mesma maneira como ocorre no cash flow hedge, o objeto não sofre alteração, mas o instrumento sofre variações no valor justo da sua parcela efetiva, os quais são lançados no resultado do período.
3. Entender a natureza dos riscos incidentes
Outro passo importante na aplicação do hedge accounting é a identificação da natureza dos riscos envolvidos nela. Assim, após identificar quais são as operações de hedge realizáveis pela empresa, é preciso dimensionar quais riscos que podem interferir nelas, buscando-se alternativas para mitigá-los da melhor maneira.
Entre os riscos mais comumente protegidos pelas empresas, podemos citar:
- variações no câmbio de moedas estrangeiras;
- oscilações econômicas;
- alterações negativas nas taxas de juros;
- commodities.
4. Definir o instrumento de hedge
Após realizados os passos anteriores, agora é preciso identificar quais os instrumentos utilizados para o Hedge proposto pela empresa. Na praxe contábil, os instrumentos mais utilizados são:
- NDF (Non Deliverable Forward) — é uma espécie de contrato a termo, isto é, firmado pelas partes, sem que haja a negociação junto à Bolsa de Valores. Ou seja, a negociação é realizada diretamente com o banco;
- Swap — modalidade de operação baseada na troca (swap) de posições entre investidores. Ocorre, por exemplo, a assunção de um risco em troca de uma maior rentabilidade;
- Futuro — são operações realizadas no presente, mas tomando como base a perspectiva futura do valor de moedas estrangeiras.
5. Demonstrar a eficácia da estratégia de hedge
Como vimos, existem diferentes etapas que devem ser executadas para aumentar a eficiência da estratégia de hedge. Contudo, mais do que escolher o melhor instrumento para mitigar os riscos da empresa, é necessário avaliar se ele é aceito pela normatização contábil, de modo que possa ser efetivamente aplicado no hedge accounting.
Para garantir essa efetividade, avaliações periódicas são necessárias. Essas análises podem ter as seguintes abordagens:
- Prospectiva — aqui, o que se faz é a mensuração de resultados futuros, medindo os produtos que estão envolvidos no hedge;
- Retrospectiva — é a avaliação obtida a partir dos resultados efetivos já obtidos com o hedge. Ou seja, são avaliações do histórico de operações, do passado. Nessa abordagem, vale lembrar, é admitida uma oscilação entre 80% a 125% de eficácia.
6. Documentação da estratégia
Todos os passos executados ao longo da estratégia devem ser devidamente documentados em um memorando de hedge. Esse documento deve incluir o item objeto, a natureza dos riscos, os objetivos da gestão de riscos e da estratégia, além da metodologia utilizada para mensurar a sua efetividade.
Por fim, como foi possível perceber, a estratégia de hedge accounting apresenta uma série de nuances técnicas e requer o atendimento de alguns passos para que seja colocada em prática. Entender melhor essa estratégia contábil, sem dúvida, é o primeiro passo para que você, contador, consiga aplicá-la de maneira acertada, eliminando os riscos e a volatilidade nos resultados contábeis.
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